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domingo, 8 de maio de 2011

HISTÓRICO DE MUZAMBINHO

No princípio era a mata atlântica com sua exuberância de fauna e flora. Jequitibás, ipês, jacarandás, araucárias, bromélias e uma enorme quantidade de plantas e insetos conviviam com as sauás, as capivaras, pacas, lagartos, tatus, onças, jaguatiricas, tamanduás, veados, lobos, cobras, saguis, peixes e pássaros como os jacus, gaviões, garças, sabiás, joãos-de-barro, pintassilgos, bem-te-vis, tucanos, maritacas e papagaios. Nesta mata, provavelmente, haviam índios. Não há estudos e pesquisas suficientes mas na região haviam tapuias, tupis, botocudos, cataguases, caiapós e catuás. Um estudo mais profundo precisa ser feito, mas na tradição oral da cidade, fala-se na existência de bugres. (14) Os índios, provavelmente, foram exterminados ou fugiram dos colonizadores brancos para o interior desconhecido do Brasil. (1)

“A partir de 1762, as margens dos córregos ao longo das picadas abertas nas matas, ao norte de São Bartolomeu e ao sul de Jacuí, já eram habitadas por negros quilombolas, bandeirantes paulistas e portugueses que iam de Jacuí a Cabo Verde. Quando o governador de Minas, Luiz Diogo Lobo da Silva desceu de Jacuí para Cabo Verde, em 1764 passou pelo local denominado Quilombo, justamente na posição onde se encontra hoje Muzambinho. A carta de seu secretário, que o acompanhou na viagem, o inconfidente Cláudio Manoel da Costa, dizia que “passou pelos caminhos antigos, todos cobertos de mato”, o que significa que a região já era habitada antes dessa data. (Ouro Fino: 1749 e Jacuí: 1755). A partir de 1762, portugueses e açoreanos vieram dar origem às principais famílias que hoje habitam a nossa região. Trouxeram consigo a habilidade em tratar a terra, cuidar de criações, a tecelagem artesanal, a fabricação de queijo, a técnica de fabricar o açúcar, a rapadura, o açúcar mascavo, o fumo, o trabalho em couro e madeira, a religião, o folclore e as crendices populares. Raramente os sul mineiros que possuem sobrenome portugueses não possuem descendência açoreana.”

O primeiro núcleo habitacional de que se tem notícia data de 1765, em um mapa organizado por ordem do governador da Capitania de Minas Gerais, Dom Luiz Diogo. Nesse mapa está assinalado o local com o nome de Quilombo. Em outro mapa, de 1767, o referido local também tem o nome de Quilombo com dois outros núcleos com nome de Dumbá e Zumdu. Esses núcleos eram habitados por negros africanos livres e seus descendentes. (9)

Seu topônimo originou-se das palavras africanas “Mocambo” ou “Moçambo” e do seu diminutivo “Mocambinho”, que serviam para designar um tipo de habitação onde se ocultavam os negros escravos foragidos. Que tiveram grande influência na formação do povoado.

O significado da palavra Muzambinho tem vários explicações e pode ter vindo do idioma quimbundo, falado pela etnia chokwe ou quiocos em Angola, significando “Adivinhação”; (4) é também o nome de um chocalho, musambu, usado pela etnia em rituais de adivinhação e para espantar os maus espíritos. (4) O nome pode estar ligado à máscaras estilo muzamba, usadas pela mesma etnia. (5) Outra versão é a de que vem da palavra mocambo, também do idioma quimbundo, que significa local onde os negros escravos fugitivos se reuniam (mu+kambo=esconderijo). (6) Pode vir também da palavra muçamba (instrumento musical, espécie de puíta ou cuíca), (7) muçambé (espécie de planta brasileira) (7) e muçambo (enfeite de metal usado pelas mulheres da etnia lunda, de regiões da atual Angola, para apertar o inferior das tranças dos cabelos) . (7) Existe a hipótese do nome vir de Moçambique pois a região do país africano era chamada Muzambih por geógrafos árabes na época medieval. (8) A palavra Muzambih teria o significado de “Sopro de Deus”(Mu=sopro, Zambi=Deus) e é usada em rituais de candomblé como uma saudação. (10) Também pode ser considerado lugar onde se fazem oferendas, segundo alguns seguidores do candomblé. Pode advir da dança Moçambique, praticada no município no século XX. Também pode vir de Muzambo, (11) lugar sagrado, lugar de prender elebó*, no candomblé. O nome Muzambo ainda existe até hoje no norte de Angola, na região Uige. (17)

A fundação do povoado registrou-se antes de 1.852 com o segundo nome de São José da Boa Vista, sendo Pedro de Alcântara Magalhães considerado um dos pioneiros da fundação. A região foi habitada primeiramente por escravos africanos fugitivos em pequenos núcleos (quilombos). As terras foram doadas por Maria Benedita Vieira, Ingrácia Destarte, José Braga e João Vieira Homem. Subiu à categoria de distrito pela Lei 1095, em 08 de outubro de 1860. Em 2 de janeiro de 1866 passou a ser paróquia. Sua ascensão à Vila deu-se pela Lei 2500 de 12/11/1878, formando um termo com as freguesias de Dores

de Guaxupé, hoje Guaxupé; e Santa Bárbara das Canoas, hoje Guaranésia. Finalmente, em 30/11/1880, atingiu a condição de cidade e, ao mesmo tempo, de comarca, com o nome de Mozambinho, de cujo território se desmembrariam, mais tarde, também os municípios de Monte Belo e Juruaia. Com o decorrer do tempo, o nome passou a atual grafia com “U”. Em relatórios do governo da província no século XIX, o local é grafado como Mosambinho ou Mossambinho. (2)

A história de Muzambinho está ligada à luta pela liberdade dos africanos, à procura de ouro pelos mineiros e à conquista do sertão pelos bandeirantes paulistas que se dirigiam a Goiás.

Na região houve grande incidência de escravos que, fugindo das fazendas, ali se escondiam, principalmente onde hoje se encontra o bairro Brejo Alegre. Os escravos, em sua maioria, eram bantos de Angola ou provenientes de várias etnias de Moçambique. (3) Pela atuação dos abolicionistas de Muzambinho, principalmente Américo Luz, grande parte dos escravos da comarca foram alforriados no dia 12 de maio de 1881, antecipando o ato da Princesa Isabel que assinaria a Lei Áurea em 13 de Maio de 1888.

A população muzambinhense é formada por descendentes de índios, africanos, portugueses, italianos, sírios, libaneses, espanhóis e alguns suecos. Há principalmente na zona rural, pessoas com fortes traços indígenas, os caboclos.Os portugueses vieram em sua maioria dos Açores. (13)

O forte da economia do município advém principalmente do setor de serviços da agricultura e pecuária, tendo algumas indústrias de pequeno porte e casas comerciais que atendem as outras cidades da região.

Muzambinho ocupa uma área de 414 Km2, é um município localizado na mesa-região do sudoeste mineiro e micro-região da baixa mogiana. Limita-se com os municípios de Juruaia, Cabo Verde, Monte Belo, Guaxupé e Caconde, este último no estado de São Paulo.

A História de Muzambinho sempre esteve ligada a fatos relacionados com a História Nacional: a formação do quilombo anterior a 1765, o movimento abolicionista liderado por Américo Luz, a luta de seus líderes políticos para a vinda da estrada de ferro para a cidade, a criação do Lyceu Municipal em 1901, através do qual mereceu o título de “Atenas Sul Mineira”, cuidando da educação de jovens de todo o país, que posteriormente figurariam em importantes setores da vida

pública nacional, principalmente na política, destacando-se os nomes de Américo Luz, Licurgo Leite Filho como Deputado Federal, Dr. João Marques de Vasconcelos, como Deputado Estadual e vice-governador de Minas Gerais e o Dr. Marco Regis de Almeida Lima, como Deputado Estadual por dois mandatos. Muzambinho sofreu as consequências das revoluções de 1930 e 1932, quando a cidade foi ocupada por tropas paulistas, sendo então palco de confrontas armados. Segundo Otto Lara Rezende: “Dutra liderou os mineiros a partir de Muzambinho, empurrando os paulistas para o túnel”. (12)

Em 1937, com a implantação do Estado Novo, e dissolução de todos os partidos existentes no país, que manteve Getúlio Vargas no poder até 1945, novamente Muzambinho vai sentir de perto as conseqüências de sua importância na vida política nacional. Com a implantação do Estado Novo, o prefeito Dr. José Januário Magalhães ficou no governo até 1945 e o diretor do Lyceu Municipal, Prof. Salatiel de Almeida, foi afastado sendo substituído pelo Prof. Saint Clair, que acabou sendo assassinado pelo professor de matemática por questões políticas. Esse fato levou ao fechamento do colégio e sua ocupação pelo Décimo Batalhão dos Caçadores Mineiros, em 1938.

Com o fim da ditadura em 1945, reiniciou o movimento político na cidade e o próximo prefeito eleito é o Sr. Messias Gomes de Melo, da UDN.

Em 1953 é inaugurada a Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, com presença de autoridades estaduais, como o governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Gustavo Capanema e o Presidente Getúlio Vargas de volta ao poder.

O desenvolvimento da cidade acompanha os acontecimentos do País. Aos poucos e com trabalho a cidade vai crescendo, sem entretanto perder seu encanto de cidade do interior.

Na década de 1970, é fundada a Faculdade de Educação Física. No mesmo período ocorre, na cidade, torturas a estudantes muzambinhenses pelo Dops de Belo Horizonte. A repressão ocorreu devido a pichações feitas nos muros da cidade contra a ditadura militar.

Na década de 80, com as transformações na vida política do país, Muzambinho, também respira aliviada, e é na área da educação que vai se destacar implantando transporte para os alunos da área

rural. 1990, iniciou-se como a década do desenvolvimento sacio-cultural e do desenvolvimento do potencial turístico e continuidade no crescimento populacional urbano.

Em 1995 Muzambinho recebe a visita do prefeito da cidade de Moçambique, Sr. Abel Ernesto Safrão e inicia um intercâmbio com os países africanos de língua portuguesa. No mesmo ano, recebe da Embratur, o título de “Cidade Potencial Turístico” e em 1998 o título de “Município Prioritário para o Desenvolvimento do Turismo”. A cidade, aos poucos, começa a preservar seu patrimônio histórico, artístico e cultural.

Em 2008, destaca-se a transformação da Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho e as unidades de Inconfidentes e Machado, em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – IFSULDEMINAS -, e em 2010, a federalização da Faculdade de Educação Física de Muzambinho, o que trouxe novos rumos para o ensino tecnológico e superior no município.

FONTES
1- Muzambinho, suas Histórias e seus Homens - Bretas Soares, Moacyr.
2- Arquivo Histórico Nacional - Rio de Janeiro.
3- Moçambique, Moçambiques - Itinerário de um povo Afro-brasileiro. Auto João Lupi (professor de Filosofia e Antropologia da Universidade Federal de Santa Maria - RS).
4- Musical Instruments, Songs and Dances of the Chokwe - Bastin, Marie Louise Smithsonian Institute - Washington, Estados Unidos Pandiá Pându 8 Ana Pându - página 229 - Editora Ediouro Toponímia e Antroponímia no Brasil de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick - página 137.
5- Ritual Masks of the Chokwe - Bastin, Marie Louise – Smithsonian Institute - Washington - Estados Unidos.
6- Dicionário da Arquitetura Brasileira - Corona e Lemos Editora ArtShow Books 1989 .
Muzambinho, sua História e seus Homens - Bretas Soares, Moacyr.
7- Toponímia de Minas Gerais - Ribeiro da Costa, Joaquim – Imprensa Oficial do Estado Belo Horizonte – 1970.
Jornal “O Estado de Minas” edição 10/05/1967 - Coluna “Escrever Bem”do Professor Aires da Mata Machado Filho.
8- Enciclopédia da Folha de São Paulo - página 643.
9- Adilson de Carvalho - A Freguesia de Nossa Senhora da Assumpção de Cabo Verde - páginas 49 e 50.
10- Breno Decinna - arquiteto do IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico) - informação oral.
11- Dona Adeli Ferreira - Mãe-de-Santo, nação Oió, em Alegrete (RS).
12- Otto Lara Rezende - Folha de São Paulo (caderno MAIS!) de 17 de janeiro de 1999.
13- Sr. Adilson de Carvalho - historiador e autor de “A Freguesia de Nossa Senhora da Assumpção de Cabo Verde e sua História”.
14- Dona Rita Almeida Oliveira - informação oral de Moradora da Rua Cônego Esaú. 53 em Muzambinho.
15- Adilson Carvalho - Historiador de Cabo Verde em palestra na Casa da Cultura em janeiro de 1999.
16- Adilson de Carvalho - Historiador, escreveu todo o texto entre aspas.
17- Informação oral, prestada em fevereiro de 1999, pelas Sras. Antônia Cravide, Leopoldina e Maria Cristina Dória, naturais de São Tomé e Príncipe, em visita à Casa da Cultura de Muzambinho.
• Elebó - Pessoa sendo preparada para ser pai ou mãe de santo, rituais finais.
Pesquisa: Secretaria Municipal de Cultura através de Fernando Antônio Magalhães e Neide Barbosa de Souza e atualizada por José Roberto Del Valle Gaspar.

4 comentários:

  1. Uma Muzambinho que nunca tinha ouvido falar...agora contarei esta história aos meus pequenos alunos!

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  2. Bom dia, adorei a página, sou gaúcha e estou morando em Muzambinho a uma semana. Obrigada por me ensinar um pouco dessa história que faz parte de uma cidade tão linda.

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  3. Obrigada por esclarecer a história de uma belibelís cidade.

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